Hoje (22/04) faz 300 anos do nascimento do filósofo Emmanuel Kant. Nada em mim é kantiano, mas, tributo devido, muitas vezes, por meio de Kant, indaguei sobre o que sou, enquanto universidade, como universidade. Onde estou e a quem represento, como professor, cientista, orientador? Pelo que sou responsável? Qual a minha responsabilidade? Perante quem sou responsável por aquilo de que sou responsável?
(...) Dois séculos e meio atrás Kant inquietava-se da mesma maneira e pelas mesmas razões. E dizia que estar numa universidade, fosse como docente, fosse como aluno, instituía, naturalmente, a responsabilidade de fazer algum tipo de revolução e mudar o mundo.
Kant dizia que a universidade não era uma má ideia... No texto "Der Streit der Fakultäten" colocou que a Universidade tinha o poder revolucionário de criar e conferir títulos. Afinal, conferir títulos, antes da invenção da universidade, era privilégio dos reis; e, nesse sentido, toda universidade seria, na visão de Kant, uma instituição fundamentalmente revolucionária.
Poucas vezes na vida irmanei-me com Kant. Mas esse texto lava minha alma. Sobretudo porque o rei da Prússia, Frederico Guilherme, profundamente incomodado, extraordinariamente confrontado, miseravelmente irritado, decidiu-se, muito pateticamente, a reprová-lo, a admoestá-lo, qualificando-o de irresponsável (unverantwortlich) por meio de uma carta enviada ao filósofo.
E é com base nesse episódio que provoquei meus alunos, ao longo dos anos – com o mote I Kant, Kant you? – buscando fazer com que compreendessem que o fato de estarem numa universidade e de saírem dela com todos os conhecimentos concernentes e com um diploma, um título, era muito mais do que, simplesmente, uma mudança na vida pessoal deles: era um fato revolucionário, que possibilitava uma mudança na ordem das coisas – em todo caso, na ordem das coisas imediatamente relacionadas a si, algo ainda mais revolucionário do que a ordem das coisas relacionadas, abstratamente, ao todo, ao coletivo.