Diálogos da Marina e do Fábio, n° 248. Parte II
Subindo a montanha Huayna Pichu, em Machu Pichu, Peru.
Continuação da edição anterior.
AINDA subindo, encontramos um outro turista que, após os cumprimentos de praxe, talvez elaborando considerações a respeito de nosso estado físico, repentinamente, decide nos dar alguns conselhos:
Turista – Inhalem el aire por la nariz y le exhalem por la boca, pero muy lentamente...
Conselho esse que já escutáramos. Agradecemos. Gentil, ele nos fez outra recomendação:
Turista – Justo delante encontrarán un tramo muy empinado. Su secreto es el siguiente: primero pisem con el talón y luego, lentamente, bajem la punta de los pies.
Agradecemos.
Marina – Não devia ser o contrário? Primeiro a ponta dos pés e, depois o calcanhar?
MAIS A FRENTE cruzamos com três norte-americanas, também descendo a montanha. Após os cumprimentos habituais, a última delas diz à Marina:
Turista americana – I loved your pants.
Marina – Thank you
Turista americana – Where did you buy it?
Marina – In Belém do Pará, Brazil.
Turista americana – Oh yes?
Marina – Sure!
Turista americana – Great! It’s so beautiful!
QUINZE MINUTOS mais de subida:
Fábio – Já percebeste que tem muito mais gente descendo do que tem gente subido?
Marina – Já, e também acho que em muita gente estranha descendo dessa montanha. Será que acontece alguma coisa, quando se chega lá?
Fábio – Será que falta oxigênio, lá em cima?
Parada súbita. Pausa dramática.
Os dois se entreolham, mas seguem a caminhada, em profundo silêncio.
MAIS UMA HORA e meia depois chegamos, enfim, ao topo da montanha de Wayana Pichu. Olhamos, batemos foto, sentamos, olhamos de novo, olhamos mais uma vez e fazemos mais algumas fotos.
Alguém nos informa que tem por lá um mirante, ali ao lado, e que de lá, sim, se tem uma visão maravilhosa do vale dos incas.
Alguém – Só tem que subir mais quinze metros.
Marina e Fábio se entreolham e, sem expressar palavras (considerando o conhecimento mútuo que já possuem um do outro, tanto de suas condições físicas como de suas disposições espirituais), consideram que é demais e que não precisam subir mais quinze metros para ter aquela visão maravilhosa do vale dos incas.
Marina (pensando consigo mesma) – Que se dane essa visão maravilhosa.
Fábio (pensando consigo mesmo) – Mas quem é o infeliz, o FDP, que teve a ideia ridícula de colocar um mirante no alto de uma montanha que a gente já leva três horas para subir?
CONTEMPLANDO O BELÍSSIMO HORIZONTE:
Fábio – Então, realizaste teu sonho?
Marina – Realizei. Aliás, depois de meia hora de subida já tinha realizado.
Fábio – Vamos voltar?
Marina – Vamos.
DESCEMOS calados. Mais duas horas de caminhada. No caminho, Marina sente vertigem. Descer é mais difícil que subir.
Fábio – Sinceramente, acho que subir nessa montanha não acrescentou muito na minha existência. Não senti nada espiritual e, de físico, só senti muito cansaço.
Marina – Talvez tenhas perdido um quilo – talvez dois.
Fábio – É, talvez.
DEPOIS...
Fábio – Lembras que fizemos uma troca? Se eu realizasse um sonho teu, realizavas um sonho meu?
Marina – Humm (desconfiada). E qual seria teu sonho?
Fábio – Uma viagem.
Marina – Certo, pode ser. E para onde seria?
Fábio – Viajar de volta para casa...